
ILÊ AXÉ ITAYLÊ O
Terreiro Ilê Axé Itaylê O, fundado em 1935, por Narcisa Cândida da Conceição (Mãe Filhinha), na Rua da Delegacia, em Cachoeira. Segundo Sagrados do Recôncavo (2021, pg. 11). Mãe Filhinha iniciou ainda adolescente, pelo africano João da Lama, na localidade da Lama Branca, em São Gonçalo dos Campos/Ba. Mãe Filhinha, nasceu no dia 25 de outubro de 1904, na cidade de Conceição de Feira/Ba, (cidade localizada há aproximadamente 17 km de Cachoeira).
Fé e Resistência
E faleceu em 05 de agosto de 2014, aos 110 anos de idade. Reconhecidamente uma das ialorixás mais respeitadas da Bahia. Se dedicou por quase 80 anos ao culto aos orixás, voduns e caboclos e por mais de 50 a Irmandade da Boa Morte. Tendo ocupado o posto de juíza perpétua (cargo mais alto da Irmandade) nos últimos anos de sua vida. Mãe Filhinha, iniciada para a orixá Iemanjá Ogunté, começou a trabalhar ainda muito jovem, como era comum às mulheres e homens negros, no período pósabolição.
Foi agricultora (se dedicava ao plantio de mandioca para fazer farinha e vender na feira da cidade). Após esse período foi ceramista, produzindo na Baixa da Olaria (bairro da cidade de Cachoeira). Utensílios de barro: potes, panelas, gamelas, telhas, jarros. Logo após esse período (que de acordo com as memórias e narrativas, para ela foi um período de grande labor e sacrifícios).
Nago-Vodun
Ela trabalhou como charuteira na Fábrica da Suerdick e da Danneman. O Terreiro Ilê Axé Itaylê O possui como patronos os orixás Iemanjá, Ogum e o Caboclo Tumba Junsara. Pertence a Nação Nagô-Vodun, e é localmente reconhecido por adeptos do candomblé. Habitantes da cidade de Cachoeira e São Félix, como o “candomblé de Mãe Filhinha”.
Cultua tanto os orixás, como os/as caboclos/as: Caboclo Tumba Junsara, Caboclo Sultão das Matas, Cabocla Jurema e Caboclo Pechincha. Hoje quem está à frente como Ialorixá deste terreiro é Maria Lúcia Barreto dos Santos (Mãe Lúcia, 73 anos). Que durante muitos anos, ocupou o posto de Mãe Pequena do Terreiro Ilê Axé Itaylê Itaylê O. E a qual tinha laços afetivos de amizade com Mãe Filhinha.
A Salvaguarda do Sagrado
Desde então, Mãe Lúcia, iniciada para os orixás Oxum e Oxalá, conduz este terreiro, sendo reconhecida no Recôncavo da Bahia. Como uma das grandes 13 Leitura, Registro e Salvaguarda do Patrimônio Sagrado matriarcas dos cultos afro e das comunidades de matriz africana deste território sagrado. “O ferro encontra a água, na totalidade do culto. Na religiosidade da casa e na memória dos filhos e filhas ‘feitos’ por ela, trezentos ou mais”.
Legitimidade
O caminho que leva ao Terreiro Ilê Axé Itaylê O, pela Rua da Delegacia, é bastante populoso. E nesta, pessoas de qualquer idade, quando perguntadas sobre o nosso destino, indicam : Alí, está a casa de Mãe Filhinha. Neste espaço, onde Iemanjá reina estamos diante de filhas e filhos de santo, que compõem uma comunidade que em tudo saúda sua fundadora.
Mãe Filhinha, construiu um legado histórico, reconhecido pela solidariedade e pela doação. Muitas são as histórias que perpassam por sua trajetória de sacrifícios quando ainda era uma ceramista (ofício que exerceu durante muito tempo). Acumulado a isso, como mulher negra, vivenciou um panorama de pós-abolição. Que expõe até os dias de hoje muitas pessoas a uma situação de grande vulnerabilidade.
Relações de Bondade
O legado dessa filha de Iemanjá Ogunté para os cultos afro do Recôncavo da Bahia. E mais particularmente a Nação Nagô-Vodun, resiste através da comunidade (egbé) do Ilê Axé Itaylê. A sua bondade é tomada como parte desse aprendizado e a forma matripotente. Como essa mulher conduziu as relações com as pessoas que orbitavam pelo terreiro. Sejam como membros ou como vizinhos/as, é cantada por quem ainda se encontra aqui no Orun. Como um patrimônio histórico que, com certeza, atravessará os tempos.
Fonte: Sagrados do Recôncavo / http://sagradosdoreconcavo.com.br